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Página:O bobo (1910).djvu/204

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de amargo escárnio replicou ao ouvir aquelas palavras ameaçadoras:

— Não gasteis comigo, nobre senhor, a única moeda com que vós outros os poderosos comprais não só o silêncio, mas tudo aquilo de que careceis para satisfazer paixões brutais. Se eu quisesse delatar o que vos ouvi, não fora tão louco que vos falasse.

— Respondo por Dom Bibas - acudiu o abade. - Não é ele capaz de trair-nos. Quis exercitar seu mister, e bem sabeis que seu mister é gracejar.

— Fr. Hilarião! - interrompeu o bobo - entre a vida que foi, e a que é e há-de ser, há para mim um abismo. Cavaram-no os estrangeiros; mas eu os despenharei aí! E depois Dom Bibas, o folião, o bobo, assentar-se-á na borda dele para lhes alegrar a queda: para rir e zombar. À pergunta que fizestes se haveria meio de sair de Guimarães este nobre cavaleiro, que intenta manchar seu rico bulhão no sangue vil de um jogral, e os homens de armas da Maia, respondi eu que havia. Juro que não menti. Tenho para isso meio fácil. Podeis aproveitar-vos dele, se é que o benefício de um bufão não desonra um rico-homem de ilustre linhagem.

— Dom Bibas! - replicou o abade, fitando nele