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Página:O bobo (1910).djvu/290

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Oh, como será bom e consolador! Quisera ser forte e ser cavaleiro... Mas tu o és: tu, o abandonado, podes abrir a vala dos mortos entre o altar e o leito do noivado; converter em escárnio e mentira as bênçãos do sacerdote; ver a teus pés estorcendo-se moribundo o que assassinou a tua alma, e cuspir-lhe nas faces demudadas, e rir... desesperá-lo com o teu rir... É tudo isto o que há para ti na vida, se fugires. Se ficares, ao romper de alva subirás a uma das torres deste castelo para aí assistires mudo e quedo às façanhas do teu rival; mudo e quedo pendurado de uma corda do alto das ameias, como um judeu vil, como um feiticeiro maldito...

— Oh, não digas mais! - interrompeu o cavaleiro como embriagado e frenético pelo horror e pela vingança que respiravam as palavras, o gesto, o olhar de Dom Bibas. - Não digas mais! Tens razão, o vingar-se é o prazer supremo de um réprobo! Não aceitei dela a liberdade: aceitá-la-ei de ti... Depois... depois, Deus se compadeça de mim.

— Não há tempo a perder - prosseguiu o bobo começando a despir a cogula que trazia vestida. - Toma este hábito e sai, curvado e escondendo o rosto: os guardas não te conhecerão.