Página:O bobo (1910).djvu/60

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Dulce era filha de D. Gomes Nunes de Bravais, rico-homem que morrera na rota de Vatalandi combatendo como esforçado a par do conde borgonhês. Expirando, o nobre cavaleiro encomendou sua filha órfã à protecção do conde. Este não se esqueceu da súplica do guerreiro moribundo; trouxe a órfã para seus paços, e entregou-a a sua mulher. Nos tenros anos, Dulce prometia ser formosa, e, o que não era de menos valor, de um carácter nobre e enérgico e ao mesmo tempo meigo e bondoso. Pouco a pouco D. Teresa lhe ganhou amor de mãe. Até aos vinte anos, que já Dulce contava, este amor não afrouxara, nem no meio dos graves cuidados que cercaram a infanta nos primeiros anos da sua viuvez, nem com a louca afeição do conde Fernando Peres. As esperanças que a donzela dera se haviam inteiramente realizado. Dulce era um anjo de bondade e de formosura.

Mas este anjo inocente, rodeado dos carinhos das mais nobres damas, das adorações dos mais ilustres cavaleiros da corte, parecia ter encerrado inteiramente o coração ao amor. Verdade é que entre os mancebos sempre atentos a indagar as inclinações das donzelas, tinham existido suspeitas de que esta indiferença