Página:O bobo (1910).djvu/61

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e frieza era mais simulada que verdadeira. Eles haviam observado que os olhos de Dulce costumavam fitar-se com desusada complacência num donzel, que bem como ela fora criado na corte. Era este Egas Moniz Coelho, primo do ancião Egas Moniz, senhor de Cresconhe e Resende e aio do moço infante Afonso Henriques. Pouco diferentes em idades, semelhantes em génio e carácter e educados juntos, desde tenros anos, pelo respeitável senhor da honra de Cresconhe, os dois mancebos haviam contraído amizade íntima. Na mesma noite e na Sé de Zamora tinham velado as armas. Como prova da sua independência política, D. Afonso tomara do altar a armadura e a si próprio se fizera cavaleiro. Das mãos dele recebeu depois o mesmo grau, alvo da ambição de todos os mancebos nobres, o seu amigo de infância; e o infante e Egas, até aí irmãos pela afeição mútua, ficaram ainda mais unidos pela fraternidade das armas.

As suspeitas dos moços cavaleiros tinham nascido pouco depois da vinda de D. Afonso e de Egas para a corte de Guimarães. Mas semelhantes suspeitas breve se desvaneceram. Inesperadamente Egas Moniz partiu para as guerras de ultramar, ou, como hoje se diz,