quando talvez pudesses repousar agora no sono da madrugada?
— É porque busco o ar e a luz do céu como um refrigério; é porque sinto cá dentro um fogo que me devora, e preciso de respirar livre na solidão.
O conde viu duas lágrimas bailarem sob as pálpebras do cavaleiro. Parou espantado. Era inaudito, monstruoso, impossível o que via. Nunca a dor de feridas, a sede nos desertos, a fome nos castelos sitiados, e até a morte de amigos queridos no campo de batalha lhas haviam arrancado. Ocorreu-lhe então um pensamento súbito, porque Fernando Peres era hábil em conhecer os afectos humanos. Parou, e, cravando a vista de lince no rosto de Garcia Bermudes, disse-lhe no tom firme e positivo de quem descobrira um segredo:
— Garcia, tu és infeliz pelo amor!
O cavaleiro corou levemente e, com a voz afogada, respondeu:
— É verdade!
O conde sabia que ele amava Dulce: toda a corte o sabia. Fernando Peres folgava com a ideia de prender por laços mais fortes que os da amizade aquele esforçado homem de guerra à fortuna de D. Teresa e à sua. Dulce seria disso um penhor, e a afeição particular que ela