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Página:O cabelleira - historia pernambucana (1876).djvu/13

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Meu amigo,


A casa, onde moro, está situada ao lado de uma rua de bambús, em um dos cantinhos mais amenos da bacia de Botafogo.

Vejo daqui uma grande parte da bahia, os morros circumstantes, cravando seus cumes nas nuvens, o céo de opalo, o mar de anil.

Infelizmente este bello espectaculo não é immutavel.

De subito o céo se torna brusco, e só descubro cabeços fumegantes em torno de mim; ribomba o trovão nos pincaros alcantilados; a chuva fustiga as palmeiras e casuarinas; a ventania brame no bambuzal; a casa estala. Parece que tudo vai derruir-se.

Estas tormentas duram horas, noites, dias inteiros, e reproduzem-se com mais ou menos frequencia.

Quando ellas têm passado de todo, o céo mostra-se mais puro e bello, o mar mais azul, as arvores mais verdes; a viração tem mais doçura, as flores mais deliciosos aromas.

Pela face das pedreiras correm listrões d’agua prateada, que reflectem a luz do sol, formando brilhantes matizes. Coberta de frescas louçanias, a natureza sorri com suave gentileza depois de haver esbravejado e chorado como uma criança.