Página:O cabelleira - historia pernambucana (1876).djvu/14

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É tempo de cumprir a promessa extorquida pela amizade, que não attendeu ás mais legitimas escusas. Essa natureza brilhante e movel estava a cada instante convidando o meu desanimo a romper o silencio a que vivo recolhido desde que cheguei do extremo-norte do imperio.

Depois de cêrca de dous annos de hesitações, dispuz-me enfim a escrever estas pallidas linhas — notas dissonantes de uma musa solitaria, que no retiro, onde se refugiou com os desenganos da vida, não póde esquecer-se da patria, anjo das suas esperanças e das suas tristezas.

Tive porém que melhor seria leres umas centenas de paginas na estampa, que traduzires um volumoso in-folio, inçado de tantas emendas e entrelinhas que a mim mesmo custa às vezes decifral-as, pela razão de que tudo aqui se escreveu sem ordem, sem arte, sem se attender a ideal, por aproveitar momentos vagos e incertos de uma penna que pertence ao estado e a familia.

Por isso, em lugar de uma carta receberás nessa encantadora Genebra, onde te delicias com a memoria de Rousseau, Stael, Voltaire, Calvino — astros immortaes, que rutilarão perpetuamente no firmamento da civilisação, um livro hoje, outro talvez amanhã, e alguns mais successivamente, até que me tenha libertado da obrigação, que me impuzeste, conforme o permittirem as minhas forças diminuidas pelo meu afastamento das cousas litterarias de nossa terra.

Inicio esta serie de composições litterarias, para não dizer estudos historicos, com o Cabelleira, que pertence a Pernambuco, objecto de legitimo orgulho para ti, e de profunda admiração para todos os que têm a fortuna de conhecer essa refulgente estrella da constellação brazileira. Taes estudos, meu amigo, não se limitarão somente aos typos notaveis e aos costumes da grande e gloriosa provincia, onde tiveste o berço.

Pará e Amazonas, que não me são de todo desconhecidas; Ceará, torrão do meu nascimento; todo o norte emfim,