Página:O cabelleira - historia pernambucana (1876).djvu/234

Wikisource, a biblioteca livre

no teu cavallo e vai-te embora, que eu só sou demais para lamber este cabra.

Ainda bem não tinha acabado, quando cortava os ares um corpo semelhante a tronco de arvore que o furacão arrebata ás florestas e arroja a distancias incommensuraveis. O fanfarrão fôra jogado com todos seus bellicos aprestos dentro do poço pelas mãos possantes do famoso matador.

— Cabelleira! gritou Luiza, correndo ao lugar onde em menos de um instante se passára a inesperada scena.

Marcolino, que a esse tempo se achava montado no alazão, tendo ouvido este fatal appellido, deu de pernas ao cavallo e fugiu, evidentemente aterrado como si a seus pés houvesse visto cahir um raio.

O Cabelleira, entretanto, tinha corrido ao pé da ingazeira onde havia deixado o bacamarte quando se apeiára. Mas não logrou leval-o ao rosto para disparal-o, como pretendia contra o fugitivo, porque Luiza, unindo-se com elle, e buscando arrancar-lhe a arma das mãos, lhe disse com voz magoada, entre exprobração e pranto:

— Porque não me tira a vida de uma só vez, Cabelleira?

Dir-se-hia que Luiza estava possuida de um espirito angelico.