Página:O cabelleira - historia pernambucana (1876).djvu/295

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— E que fizeram?

— Descemos ao quintal acompanhadas de Gonçalo. Assim que nos viu, elle levantou-se, e nos saudou respeitosamente. « Continúe a tocar, Cabelleira » disse-lhe eu. « Ah senhora, mal posso pegar na viola. Além disso eu não sei tocar cousa capaz, senhora minha. Mas estes sons grosseiros podem melhorar si vossa senhoria, por sua bondade, mandar que me afrouxem um pouco estes laços. A corda penetrou-me na raiz das carnes, e tira-me toda a acção. » Fiz signal a Gonçalo para que satisfizesse o pedido do prisioneiro, mas Gonçalo hesitou.

— Fez bem, disse o capitão-mór.

— « Póde fazer sem susto o que minha senhora manda, sr. tenente. Cabelleira não fugirá porque está cansado de viver » disse o prisioneiro. Faltam-me expressões para lhe dizer, Christovam, o que ouvimos então. Notas de orgam inspirado não dizem os mysterios, as melancolias que se debulharam da viola do desgraçado. Vendo-o tão moço, tão artista e tão infeliz, todos nos sentimos commovidos da sua sorte; e elle, elle o prisioneiro, chorava e soluçava como uma criança.

— Basta, Leonor, disse Christovam abalado com a narração que acabava de ouvir.