Página:O cabelleira - historia pernambucana (1876).djvu/36

Wikisource, a biblioteca livre

que corria a sua liberdade imminente perigo, que para investirem com a massa ingente, a qual aliás fugia como rebanho apavorado pela presença das onças. Os seus gestos concorreram para augmentar o terror da multidão, a qual, mal interpretando-os, imaginou que ia ter começo a carnificina.

— Sim, é o Cabelleira, gente fraca. Elle não vem só, vem seu pai tambem [1] — gritou José Gomes, cujo rosto começou a annuviar-se.

Joaquim, feroz por natureza, sanguinario por longo habito, descarregou a parnahyba sobre a cabeça do primeiro que acertou de passar por junto delle. A cutilada foi certeira, e o sangue da victima, espadanando contra a face do matador, deixou ahi estampada uma mascara vermelha atravez da qual só se viam brilhar os olhos felinos daquelle animal humano.

José Gomes, por irresistivel força do instincto que muitas vezes o trahiu aos olhos do carniceiro pai, voltou-se de chofre e lhe disse:

— Para que matar si elles fogem de nós?

— Matar sempre, Zé Gomes — retorquio o mameluco com as narinas dilatadas pelo odor

  1. A trova popular diz:

    Corram, minha gente
    Cabeleira ahi vem;
    Elle não vem só,
    Vem seu pai tambem.