Página:O cabelleira - historia pernambucana (1876).djvu/56

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— Que diabo tens tu, Theodosio?

— O dinheiro, Cabelleira, o dinheiro!

E o pardo, com o semblante desfigurado por uma dôr profunda, apontou o rio que suavemente discorria por entre o deserto, mobilizando as aguas azuladas em que se reflectia o bello céo pernambucano que disputa a primazia ao céo de Italia.

— O dinheiro que tirei das gavetas do armazem lá se foi no camarote da canôa! disse o Theodosio, fulo de pezar que se não descreve.

— E que fim levou ella? interrogou José.

— Fugiu, desappareceu! Lá se foi tudo pela agua abaixo.

Não acabava quando, eil-a que aponta movida por dous meninos que, tendo ido encher os potes no rio, se haviam apoderado della para brincarem como costumavam sempre que davam com alguma canôa sem dono. Pobres crianças!

Tanto que os viu, Theodosio empallideceu. Cabelleira porém correu a encontral-os acceso em ira, gritando e ralhando como louco. Amedrontados, saltaram na margem os pobresinhos, e fugiram, ao passo que a canôa, ficando solta, desapparecia novamente impellida pela enchente da maré.