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Página:O cabelleira - historia pernambucana (1876).djvu/57

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Fazendo conta José que os meninos se haviam assenhoreado do dinheiro, continuou a correr no encalço delles sem ter outra idéa que apanhal-os para arrancar-lhes das mãos o que considerava propriedade sua. Mas como sua colera augmentou com a fugitiva resistencia dos pequenos, atirou elle sobre o primeiro que lhe ficou ao alcance o facão com tanta certeza, que o pobresinho, cravado pelas costas, cahiu banhado em seu proprio sangue.

Não parou ahi então a fereza inaudita. José, achando limpas as mãos da victima, lançou-se com encarniçada furia atraz do camarada, o qual, tendo já ganho grande distancia, e sentindo que era perseguido tenazmente, se lembrou de trepar no primeiro coqueiro que descobriu com os olhos pavidos, crendo escapar por este modo ao terrivel assassino. Reconheceu, porém, que se havia enganado, quando deu com as vistas em José que do chão diligenciava feril-o com o facão.

— Acuda, mamãi, que o homem me quer matar — gritou o menino das alturas aonde havia subido.

— Ah, tu pões a bocca no mundo, caiporinha? observou José. Pois vou tirar-te a falla em um instante.

Um tiro cobarde, cruel, assassino atroou os ares. Sangue copioso e quente gottejou