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Página:O cabelleira - historia pernambucana (1876).djvu/72

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Vendo-se assim assaltado por Joaquim e pelo filho deste, o crioulo pôde unicamente dizer estas palavras:

— Acabo de lhes fazer um bem, e é deste modo que vosmecès me dão o pago?

— Desce do cavallo, negro. Este cavallo foi teu até este momento; d’agora em diante elle nos pertence, e é preciso que nol-o entregues quanto antes.

— Meu cavallo! exclamou o crioulo com entranhada dor. Meu cavallo é meu unico haver, meus senhores. Si vosmecês m’o tomarem, com que darei eu de comer a minha mulher e a meus filhos, que não têm outro arrimo sinão eu?

— Que morram de fome como estão morrendo da secca os outros por ahi além. Demais, não te custará ganhar com que comprares outro cavallo para continuares em teu officio. Deste é que deves perder o feitio. Precisamos delle já para fugirmos com tempo á tropa que ahi vem.

— Perdão, meus brancos, — disse Gabriel com a voz mais doce e terna que pôde. Eu peço a vosmecês que me deixem ir embora. Em que os offendi? Não os tenho respeitado sempre? Vosmecês não me conhecem? Sou um pobre preto que nunca fez mal a ninguem, e que segue seu caminho caladinho sem se