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O CHOQUE
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e extasiar-me inda uma vez deante da imagem querida.

Fui. Recebeu-me miss Jane no gabinete e fez-me sentar na poltrona onde me achava no momento em que o criado a chamou. Encontrei-a serena e resignada, embora com todos os estigmas da sua grande dôr impressos na physionomia. Seus olhos denunciavam o cansaço das lagrimas.

Permaneci calado por uns instantes, sem ter o que dizer. Quem rompeu o silencio foi ella.

— Obrigada, senhor Ayrton. A sua visita me fará bem, me acalmará os nervos, cousa que nunca suppuz que tivesse... A minha solidão é hoje extrema. Como castigo de ter tido ás mãos o tudo, vejo-me agora sem nada. Este casarão vazio... os laboratorios já sem funcção... o porviroscopio, onde passei annos a me deslumbrar com visões ineditas, morto, reduzido a simples materia inerte, sem alma... A alma de tudo era meu pae...

Alcancei a situação da querida creatura, e foi com a alma á bocca que lhe disse :

— Comprehendo como ninguem o seu caso, miss Jane, e sei que até hoje no mundo pessoa alguma num só dia perdeu tanto. Horas apenas convivi com o professor Benson e apesar disso a sua lembrança viverá em mim como não vive a de meu pae. Imagino, pois,