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MONTEIRO LOBATO

necessidade de controle em vista dos artificios da deshonestidade. Fossem todos os homens sérios, não houvesse hypothese de falsificações ou abusos e o recebimento de um dinheiro far-se-ia instantaneo. Ponho-me ás vezes a imaginar como seriam as cousas cá na terra si um sabio eugenismo désse combate á deshonestidade pela eliminação completa dos deshonestos. Que paraiso!

— Tens razão, concordei eu, com os olhos parados de quem pela primeira vez reflecte numa idéa. A vida é complicada, existem leis, policia, embaraços de toda a especie, burocracia e mil peias, tudo porque a deshonestidade nas relações humanas constitue, como dizes, um elemento constante. Mas é mal sem remedio...

E por ahi fomos, no philosophar vadio de quem não possue cousa melhor a fazer e apenas procura matar o tempo. Passamos depois a analysar varios typos alli presentes, ou que entravam e sahiam, na azáfama peculiar aos negocios bancarios. O meu amigo, frequentador que era de bancos, conhecia a muitos e foi-me enumerando particularidades curiosas relativas a cada qual. Nisto entrou um velho de apparencia distincta, já um tanto dobrado pelos annos.

— E aquelle velho que alli vem? perguntei.

— Oh ! Aquelle é um caso sério. O professor Benson, nunca ouviste falar?