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MONTEIRO LOBATO

— Absurdo! Só si fabricava marcos para vender.

— Ao contrario, comprava e revendia marcos já feitos. O marco, talvez te lembres, teve em certo periodo uma oscillação de alta. Renasceram as esperanças dos jogadores e o movimento de compras foi enorme. Benson vendeu nessa occasião. Logo em seguida começou o marco a desandar até zero e para nunca mais se erguer.

— Vendeu no momento exacto, como quem sabe qual o momento exacto de vender...

— Isso mesmo. Com o franco fez cousa identica. Comprou exactamente nos dias de maior baixa e vendeu exactamente nos dias de maior alta. Tem ganho o que quer ganhar, o raio do homenzinho...

— E para que necessita de tanto arame?

— Ignoro. Não leva a vida commum dos nossos ricaços, não dá festas, não consta que seja explorado por mulheres. E' positivamente mysterioso o professor Benson e afigura-se-me um magico que vê atravez do futuro.

Ri-me da expressão do meu amigo e, qual um philosopho barato, murmurei com superioridade:

— Como pode ver atravez do que não existe? O futuro não existe...