Página:O cortiço.djvu/103

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— Se se incomodam com a gente... os incomodados são os que se mudam! Ora pistolas!

— O domingo fez-se pra gozar!... resmungou o Bruno, deixando cair a cabeça nos braços cruzados sobre a mesa.

Mas ergueu-se logo, cambaleando, e acrescentou, despindo o braço direito até o ombro:

— Eles que se façam finos, que os racho!

O Alexandre procurou acalmá-lo, dando-lhe um charuto.

Em uma outra casinha do cortiço acabava de estalar uma nova sobremesa, engrossando o barulho geral: era o jantar de um grupo de italianos mascates, onde o Delporto, o Pompeo, o Francesco e o Andréa representavam as principais figuras. Todos eles cantavam em coro, mais afinados que nas outras duas casas; quase, porém, que se lhes não podia ouvir as vozes, tantas e tão estrondosas eram as pragas que soltavam ao mesmo tempo. De quando em quando, de entre o grosso e macho vozear dos homens, esguichava um falsete feminino, tão estridente que provocava réplica aos papagaios e aos perus da vizinhança. E, daqui e dali, iam rebentando novas algazarras em grupos formados cá e lá pela estalagem. Havia nos operários e nos trabalhadores decidida disposição para pandegar, para aproveitar bem, até ao fim, aquele dia de folga. A casa de pasto fermentava revolucionada, como um estômago de bêbedo depois de grande bródio, e arrotava sobre o pátio uma baforada quente e ruidosa que entontecia.

O Miranda apareceu furioso à janela, com o seu tipo de comendador, a barriga empinada para a frente, de paletó