Página:O cortiço.djvu/105

Wikisource, a biblioteca livre

Se os moradores da estalagem jantavam em companhia de amigos, lá em cima o Miranda também estava comendo com os seus convidados! Era mau insultar, porque palavra puxa palavra, e, em caso de ter de depor na policia, ele, Alexandre, deporia a favor de quem tivesse razão!...

— Fomente-se! respondeu o negociante, voltando-lhe as costas.

— Já se viu chubregas mais atrevido?! exclamou Firmo, que até ai estivera calado, à porta da Rita, com as mãos nas cadeiras, a fitar provocadoramente o Miranda.

E gritando mais alto, para ser bem ouvido:

— Facilita muito, meu boi manso, que te escorvo os galhos na primeira ocasião!

O Miranda foi arrancado com violência da janela, e esta fechada logo em seguida com estrondo.

— Deixa lá esse labrego! resmungou Porfiro, tomando o amigo pelo braço e fazendo-o recolher-se à casa da mulata. Vamos ao café, é o que é, antes que esfrie!

Defronte da porta de Rita tinham vindo postar-se diversos moradores do cortiço, jornaleiros de baixo salário, pobre gente miserável, que mal podia matar a fome com o que ganhava. Ainda assim não havia entre eles um só triste. A mulata convidou-os logo a comer um bocado e beber um trago. A proposta foi aceita alegremente.

E a casa dela nunca se esvaziava.

Anoitecia já.

O velho Libório, que jamais ninguém sabia ao certo onde almoçava ou jantava, surgiu do seu buraco, que nem jabuti quando vê chuva.