tinha no fundo excelentes qualidades e generosos instintos de coração, que teriam feito dele um homem precioso, se não fosse a sua má educação e a diabólica mania de querer passar pelo maior valentão do mundo.
Ainda para maior desgraça Gonçalo, antes de chegar aos vinte anos de idade, tinha perdido pai e mãe.
Desde então senhor absoluto de suas ações e de uma tal ou qual fortuna, não encontrou mais paradeiro a seus desvarios e paixões desordenadas.
Um preto velho, famoso feiticeiro, respeitado e temido pelo vulgo, lhe tinha dado certa mandinga ou caborje, amuleto temível e milagroso, que o preto inculcava como um preservativo infalível contra balas, contra raios, contra cobras e contra toda e qualquer espécie de perigos.
Gonçalo, supersticioso como todo o homem ignorante, acreditava piamente em todas essas virtudes da mandinga, e a trazia cuidadosamente cosida em seu cinturão de couro de lontra.
Gonçalo trazia também ao pescoço outro objeto de natureza inteiramente diversa; era um rico relicário de ouro com uma imagem de N. Sr.ª da Abadia, que sua mãe lhe dera em seu leito de morte recomendando e aconselhando que tivesse por aquela imagem particular devoção, e que invocasse sempre o seu patrocínio em todos os trabalhos e perigos da