Começava então a derramar-se por toda a capitania de Goiás a grande fama das maravilhosas curas operadas pela intercessão da Virgem Nossa Senhora da Abadia, que era adorada em sua capelinha, erigida havia quatro ou cinco anos no lugar denominado — Muquém — à custa das esmolas e contribuições do povo, por um santo ermitão, o qual se dizia ter achado nesse lugar em uma lapa à margem do regato, que teve o nome de Córrego das Lágrimas, uma grande e perfeita imagem da mesma Senhora. Corriam na boca do vulgo a respeito desse ermitão muitas histórias e tradições diversas; mas ninguém sabia ao certo quem ele era, nem donde viera. Vivia sozinho em completo retiro subsistindo de esmolas, de frutos e legumes silvestres; trajava um hábito de algodão grosso tinto de negro, apertado por um cinto de sola, do qual pendia um grosso rosário de camândulas. Passava o tempo em contínuas penitências, orações e exercícios piedosos, e ocupado em zelar a pequena ermida, que com o auxílio dos fiéis tinha erigido à sua celestial padroeira. Demais, sua vida era simples, e despida do afetado espírito de austeridade desses que se querem inculcar como santos aos olhos do mundo e como tais serem venerados em vida; sua humildade era sincera, e seus atos de penitência e contrição eram filhos de uma verdadeira abnegação das coisas do mundo.
A imensa reputação da virtude desse santo homem,