lia-se uma dor sincera, uma verdadeira e profunda compunção.
Mateus e suas companheiras, cheios de assombro com aquele espetáculo, cuidando ter diante dos olhos uma visão beatífica, pararam e o contemplaram em respeitosa distância sem se atreverem a interrompê-lo em sua mística ocupação. Apenas porém o eremita, terminada a sua oração, levantou-se, os nossos romeiros encaminharam-se para ele. Maria, ou antes Mateus por ela, levava em oferenda à Santa Virgem um rosário de grossas contas de puro ouro com uma pesada medalha do mesmo metal, em que vinha esculpida a imagem da Virgem, obra primorosamente trabalhada nas oficinas de Vila Boa.
Tinha esta medalha sido dada em outros tempos a Maria pela mãe de Gonçalo, que a tinha conduzido à pia batismal, e era em tudo semelhante e igual à que Gonçalo possuía. Mateus e sua mulher também levavam objetos de ouro do mais fino quilate, de que eram abundantíssimas nesse tempo as minas de Goiás. Mateus apenas se aproximou do ermitão, lançou-se-lhe aos pés procurando beijar-lhe as mãos e o hábito; mas este estorvou-o tomando-lhe as mãos, e disse-lhe com mansidão:
— Que pretendeis, irmão? eu não sou nenhum santo para merecer vossas adorações; sou um miserável pecador, que para nada valho, e que choro nestes