suas festas e todas as cenas que entre eles presenciava, lhe despertavam na alma amargas e pungentes lembranças desse tempo tão cheio de extraordinárias peripécias que passara entre os Chavantes.
Também nas aldeias e habitações dos brancos, além dos tormentos que lhe infligia sua própria consciência, não lhe faltavam ocasiões de dissabores, e ouvia por toda a parte contar-se com todos os seus horríveis pormenores a história do hediondo atentado que perpetrara na pessoa de seu amigo, e que se tornara célebre em toda a capitania, e era forçado a dizer — amem — a todas as tremendas execrações que caíam sobre o assassino de Reinaldo. Era mais uma humilhação e um castigo, que aceitava resignado em expiação de suas enormes culpas. Esses mesmos que o veneravam e lhe beijavam o hábito como a um santo, sem o saber execravam sua memória e enchiam seu nome de maldições, e assim em vez de ensoberbecer-se com essas mostras de respeito e veneração, que lhe tributavam, mais humilhado e confuso se achava aos olhos da própria consciência.
Depois de longas e contínuas peregrinações pelos desertos, pelas fazendas e choupanas sem poder achar consolação nem repouso em parte alguma, Gonçalo apareceu por fim na povoação de S. José do Tocantins. Seu corpo fraco e extenuado definhava de mais a mais, e parecia um prodígio a ardente e infatigável atividade