Se assim é, ó meu pai, ó Inimá, possa nunca mais raiar esse dia de tão nefasto e abominável sacrifício!
Ao som deste suave monólogo o espírito de Gonçalo começava a desnevoar-se pouco a pouco como aos acordes de uma música celestial. Recorda-se então confusamente do medonho combate da véspera, e pasma de se achar ainda no número dos vivos. Entretanto essa voz suave, que com tanta ternura o lastima, anuncia-lhe também que ele é prisioneiro, e que sua vida não é poupada senão para que seja solenemente sacrificada em um dia de festins nupciais. Mas as palavras desse ser desconhecido repassadas de piedosa doçura lhe ressoavam aos ouvidos como um hino de esperança, e posto que nada pudesse ver, seu coração como que adivinhava a presença de um anjo salvador, que velava junto ao seu leito. Gonçalo faz um esforço e consegue fazer um movimento e exala um fraco gemido. Guaraciaba cala-se e suspende a respiração, como a rola assustada, que interrompe o arrulho ao ouvir passos na floresta; retira-se um pouco, espera um momento e de novo chega-se ao leito e interroga com os olhos o rosto do ferido. Este sente-lhe os passos, enfim pode abrir os olhos e com voz débil e sumida pronuncia em língua indígena estas palavras:
— Virgem da floresta, ou anjo do céu, como me pareces, que tanta compaixão mostras pelo infeliz