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Monteiro Lobato

que, enfitando a macaquice do irmão, instinctivamente lhe arremedava o muxoxo.

E todas as noites, na rede da sala de jantar, ficavam os dois, absorvidos no caso do Camicêgo — elle a desfiar as proezas incontaveis do monstro, ella a interrompel-o com perguntas.

— E come gente?

(Preoccupava á Martha, sempre que se lhe antolhava algo desconhecido, visto pela primeira vez — um besourão, um lagarto, uma coruja, saber o gráo de anthropophagia do bicho. O mundo para ella se repartia em duas classes: a dos seres bons, que não comem gente, e a dos máos, que comem gente.)

— Come, sim! respondia o Edgard. Pois não sabe que comeu o filhinho de Marianna, lá no morro, no dia da chuvarada?

A menina volvia os olhos sonhadores para a morraria enquadrada pela janella e quedava-se a scismar...

Nisto vinha para a rede um terceiro, o Guilherme, cujos dois annos e pico o traziam ainda muito amodorrado de imaginativa. Ouvia as historias mas não se impressionava grandemente, e no meio da papagueada hoff-