mais um, o judeu mulato do Cattete, typo de tal vida que uma suspeita breve me tomou:
— Esse diabo existe. Não pode ser ficção. Ha nelle traços que se não inventam. E se existe, hei de vel-o, bem vivinho.
E puz-me a procural-o em certo dia de folga.
Fui feliz. Logo adeante do palacio das aguias, certa vitrina attrahiu-me a attenção.
Acerquei-me della, com cara de Colombo.
Aquelles livros desbotados, aquellas canetas... Tudo exacto!
Mas... aguelle coelhinho?...
Sim, havia a mais, na sordida vitrina, um coelhinho de lã, menor que um punho fechado. Encardido, os olhos de louça já bambos, as longas orelhas roidas — visivelmente brinquedo de creança já muito brincado.
Aquelle coelhinho!
Uma creança existe de quem o usurario comprou o coelhinho...
Meu Deus! Poderá haver em corpo humano almas assim?
Shakespeare, Balzac: que fraca imaginação a vossa! Creastes Shylock, Grandet, mas a potencia de vosso genio não previu este caso ex-