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Duas cavalgaduras
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Reina a miseria na cafúa humida em que vivem, elle a delirar o seu eterno delirio alcoolico, ella a tossir os pulmões cavernosos, e a triste creança, sempre de olhos assustados, a crear-se um mundinho de sonhos para refugio da almazinha que teima em ser alma.

Só tem um amigo, essa creança: o coelhinho de lã que a mãe lhe deu em certo dia de doença grave.

Excellente quinino! A febre cedeu incontinenti e dois dias depois o doentinho se punha de pé.

Desd'ahi ficou sendo o coelhinho o amigo único da creança triste, seu confidente de todas as horas, seu irmãozinho mais novo.

Conversavam o dia inteiro, brincavam, contavam-se mutttamente lindas historias e á noite, abraçadinhos, dormiam o somno dos anjos e dos coelhos.

Aquelle coelhinho de lã...

E' preciso ser Dickens para comprehender o papel dos brinquedos unicos na vida das creanças miseraveis.

O commum dos homens não vê nisso coisa nenhuma.

Triste coisa, o commum dos homens...