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Monteiro Lobato

Um dia, o pae desappareceu.

Inutilmente a tisica o esperou até altas horas, e o esperou no dia seguinte, e o esperou a semana inteira.

Desappareceu, e está dito tudo.

Na vida, os miseraveis desapparecem, tal qual nos romances.

Vida, romance; romance, vida: será tudo um?

A tisica peiorou, e certa manhã não poude erguer-se da cama.

E a fome veio.

E foi mister vender, hoje isto, amanhã aquillo, todos os trapos e cacos da mansarda triste.

A mansarda! Que lindo effeito faz em romance esta palavra lugubre! A man-sar-da!...

Venderam tudo.

Luizinho era o leva-e-traz.

Levava o trapo, o caco, e trazia os nickeis do pão. E assim até que as reservas se exgottaram e a mansarda ficou núa como Job.

— E agora?