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Duas cavalgaduras
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A tisica lançou os olhos cançados pelas paredes núas, pelos cantos nús.

Nada! Só viu o coelhinho. Mas era um crime sacrificar o coelhinho de lã...

Resistiu ainda algum tempo.

Por fim, disse:

— Vae, meu filho, vae vender o coelhinho de lã...

A creança reluctou, mas cedeu ao cabo de muitas lagrimas. A fome impunha-lhe aquelle sacrificio supremo: trocar seu thesouro por um pão.

O que chorou, essa manhã!

Como apertava contra o peito o amiguinho, sem animo de lhe dar conta da tragedia imminente!

Resolveu mentir.

— Sabes? disse ao coelho; vou pôr-te numa casa que tem vitrina para rua. Ficas lá sentadinho, a ver quem passa, os bondes, os automoveis tão bonitos! E eu vou todos os dias espiar-te atravez do vidro. Queres?

O coelhinho não comprehendeu aquillo e desconfiou.

— Mas por que? Estou tão bem aqui...