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O MANDARIM
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guia-me e ia comer, magestoso e solitario. Uma populaça de lacaios, de librés de sêda negra, servia, n’um silencio de sombras que resvalam, as vitualhas raras, vinhos do preço de joias: toda a mesa era um esplendor de flôres, luzes, crystaes, scintillações d’oiro: — e enrolando-se pelas pyramides de fructos, misturando-se ao vapor dos pratos, errava, como uma nevoa subtil, um tedio inenarravel...

Depois, apopletico, atirava-me para o fundo do coupé — e lá ia ás Janellas Verdes onde nutria, n’um jardim de serralho, entre requintes musulmanos, um viveiro de fêmeas: revestiam-me d’uma tunica de sêda fresca e perfumada, — e eu abandonava-me a delirios abominaveis... Traziam-me semi-morto para casa, ao primeiro alvor da manhã: fazia machinalmente o meu signal da cruz, e