Saltar para o conteúdo

Página:O matuto - chronica pernambucana (1878).djvu/362

Wikisource, a biblioteca livre

Ricardo era um rapaz de condição obscura, que á protecção de um nobre devia certo emprego de que vivia. Não tendo podido completar a carreira sacerdotal, que encetára em vida do pae, viu-se obrigado, por morte deste, a voltar á Goyanna onde esperava por elle a familia acéphala.

Jeronymo não teve para elle a menor cortezia na linguagem, e muito menos no gesto.

— Tuas palavras são suspeitas, rufião—disse elle ao rapaz rudemente, mostrando-lhe um punho cerrado. Cada uma dellas representa uma das migalhas com que teu protector te matou a fome, dando-te o emprego que tens. Disseste ha pouco que não temos nem armas nem dinheiro. Enganas-te, villão. Em nossos armazens temos armas para levantar a villa inteira contra a nobreza sem freio que jurou aniquilar-nos. Quanto a dinheiro, olha d'ahi, e dize lá si já viste rosas tão bonitas como estas, que me cahiram das alturas.

Assim fallando, Jeronymo Paes fez saltar as dobras ao ar e as aparou com o açafate.

Ao sonido das moedas, um sem-numero de mãos se estendem para sua banda, e differentes vozes dizem á porfia:

— Dê-me uma rosa.