de João da Cunha só penetrará mascate depois que Damiana da Cunha tiver exhalado o ultimo suspiro.
A gentileza com que a senhora-de-engenho dizia estas palavras não se descreve, nem se imagina siquer. Outros fossem aquelles a quem ella se dirigia nesse momento, que teriam por vã e ridicula bravata, essa affirmação a que a autorizava o conhecimento intimo do quanto valia o seu animo. D. Damiana era de feito perita em atirar desde os quatorze para os quinze annos. Manhãs inteiras levava ella por junto das capoeiras proximas do cercado do engenho a passarinhar por distração. Mais de uma aposta ganhou a parentes seus com quem atirára ao alvo. As detonações das armas de fogo, longe de amedrontal-a, levantavam seus espiritos. Sentia nellas certa voluptuaria harmonia que lhe trazia deleite. Naquella fórma juvenil, graciosa e fresca havia animos viris, que se impunham á vontade e condição feminil como leis fataes e impreteriveis. Emfim era tradicional esta qualidade da mulher do sargento-mór, e lhe acarretára entre o povo certa alcunha, com que as más linguas supunham injurial-a. Chamavam-n'a—a Escopeteira. Longe, porém de se dar por offendida,