Página:O matuto - chronica pernambucana (1878).djvu/426

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pontos desconhecidos, e daí tirando tudo o que tentava sua cobiça e podia aprazer à sua voracidade. Essas hordas passavam impunemente, sem que ninguém se atrevesse a ir ao seu encontro; porque os próprios grupos que na véspera se tinham organizado em favor dos nobres e durante a noite haviam sido em muitos pontos obstáculo ao saque, desfizera-os a noticia de que o sobrado do sargento-mór, que era como a praça-forte dos nobres, fora tomado pelo partido contrario. A plebe tomara conta da vila e levava por diante a sua obra de destruição e rapina. Enfim, o que Marcelina tinha diante dos olhos era o saque em toda sua hediondez — o saque, serpente de vasta guela e insondável estômago, que tudo engole, viveres, jóias, moveis, roupas, e o que não lhe apraz ingerir, despedaça, destróe, inutiliza, como faz a enchente de um grande rio quando inunda um ponto habitado.

Marcelina vagou sem norte, tendo o juízo em quase completa confusão, pelas ruas cheias de figuras sinistras, e de vozes e ruídos ingratos. Lembrou-se de Lourenço e de Cosme Bezerra. ‘Que será feito de meu filho?! Quem sabe o que não lhe terá acontecido? E seu