Página:O matuto - chronica pernambucana (1878).djvu/48

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ou dos descampados; é a faisca elétrica que corre terra a terra e desaparece, rompendo fechados e abatendo folhagens, na massa densa e sombria das selvas. O touro afasta-se, a onça recua, para o deixar passar livremente na vertiginosa carreira.

De ordinário, porém, a marcha do animal do almocreve não sai do rojão de todo dia. Tendo sempre presente na lembrança o muito que lhe custou ganhar o seu precioso bem, poupa-lhe as forças quanto pôde, e só em caso extraordinário exige dele a corrida afanosa, os saltos súbitos, o galope, o cansativo esquipar.

Do numero dos almocreves saem os cantadores e os repentistas, que, não obstante as privações ordinárias de sua vida quase errante, têm dias de consolação e regozijo.

Pelas festas do ano ajuntam-se na casa dos camaradas para cantar, dançar e beber.

A esses saráos campestres, conhecidos por sambas, não faltam as moças mais desembaraçadas das vizinhanças, - fadas da roça, que com suas chinelas de marroquim, seus vestidos de chita ou de cassa de florões, nos lábios, que estão a verter sangue e frescura, o riso vergonhoso e a promessa duvidosa, os cabelos