Página:O matuto - chronica pernambucana (1878).djvu/66

Wikisource, a biblioteca livre

o ajudava a tornar fácil e digna a aquisição do pão custoso da pobreza.

— Se me tivesse dito que a taboa que me pedia era para este fim, já eu a teria trazido da vila.

— Gosto de fazer as minhas invenções sem dizer nada a ninguém, nem a você mesmo — respondeu Marcelina.

Vivia assim feliz, sem Ter coisa alguma que lhe causasse inquietação nem tristeza, aquele casal pobre, mas honrado e discreto, só pedindo a Deus que lhes desse chuva e sol nos tempos oportunos, para que o milho, o feijão, a mandioca, a macaxeira, as batatas, os abacaxis não morressem alagados ou queimados, e que não lhes mandasse doenças graves que os privassem do trabalho, sua distração e prazer de todo dia.

Marcelina não ficava ai, levava ainda além o seu espírito empreendedor, a sua notabilíssima vocação para o pequeno comercio.

Criava porcos, galinhas, patos e perus. Nos tempos de festa os porcos ou eram vendidos por bom dinheiro na vila, ou ela os retalhava, e em sua casa expunha à venda a carne e o toucinho, sempre com tão boa cabeça que só lhe ficava a porção que reservava