Página:O matuto - chronica pernambucana (1878).djvu/67

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para seu próprio uso. As vezes, desta mesma parte fazia o picado e o sarapatel para vender aos matutos que eram perdidos por estas espécies de comidas.

Quando as criações estavam muito aumentadas, Francisco metia-as nas capoeiras, e ia vende-las em Goiana, importante centro comercial de toda aquela redondeza, como o Recife já o era de todo o norte por aqueles tempos. Voltava de Goiana trazendo parte dos gêneros apurada em boa moeda, e a outra parte empregada em fazendas para uso da casa.

Enfim, a vida do almocreve, a vida do pequeno negociante das estradas e feiras, ninguém nem antes nem depois daquelas duas criaturas tão irmãs e amigas uma da outra, compreendeu melhor do que elas, nem talvez tão bem como elas, em suas especiais aplicações.

Causava a todos inveja e admiração a harmonia, a felicidade desses dois entes rudes, que dispensavam lições da gente civilizada para viverem com honra e conveniência e que da beira de um caminho deserto, do pé de uma mata, sem saberem ler nem escrever, davam edificativos exemplos de moral domestica, amor ao trabalho, e fé no Criador.