Página:O matuto - chronica pernambucana (1878).djvu/72

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era Ter um filho, facilmente compreenderá os impossíveis que ela vencia para fazer Lourenço digno dos seus afetos grandiosos.

As palavras que, no momento de chegar com Lourenço da povoação, Francisco dissera à sua mulher, apresentando-lho, deram logo a esta a conhecer a grande obra em que tinha de empenhar suas gigantescas forças.

— Não pedias todo santo dia um filho a Deus? Pois aqui tens um que ele te enviou e está já em condições de te fazer companhia e ajudar, quando eu não estiver na terra. Achei-o rasgado, sujo, desamparado, obrando ações feias, de todos desprezado e odiado. Lembrou-me o teu desejo, compadeci-me da criança desviada do bom caminho, tomei-a para nós, e aqui t’a entrego. Se aprender a trabalhar, a ajuntar, e a fazer bem, de muito nos poderá servir, porque é forte como uma onça.

Lourenço estava hediondo. Os cabelos tinha-os imundos e crescidos, as unhas terrosas, os pés cortados das pedras e dos vidros dos quintais e esterquilínios por onde de noite andava em busca do alheio.

Sobre o corpo, que sendo de cor branca,