Página:O matuto - chronica pernambucana (1878).djvu/75

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como em mascara, atestava pela brancura que o menino era de boa origem. Os vasos azuis desenhavam-se sob a cútis das faces, murchadas pouco antes, agora porém refrescadas pela ablução saudável, e como remoçadas pela pronta reação que é natural da meninice.

Conheceu-se então que o menino não era feio. Tinha a fronte espaçosa, os olhos rasgados e negros mas de desvairado brilho, efeito das insônias que curtia; aquilino o nariz; bem proporcionada a boca; fendido o queixo. Lia-se-lhe porém no semblante móvel e no olhar sorrateiro, sem deixar de ser observador, a desconfiança, que é uma das manifestações naturais de quem se afez a obrar ações reprovadas, a cuja pratica se não animaria, se lhe não fossem propícios os esconderijos, as trevas, os ermos, que prometem a impunidade e quase a asseguram.

Mas Lourenço, posto que de todo solto desde os primeiros anos, não tinha certos vícios que rebaixam nas cidades populosas a infância entregue a seu próprio e único alvedrio e direção. Ele era de índole mau, e cedendo às impreteríveis e fatais leis do instinto, fora arrastado inumeráveis vezes a cometer atos