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SUD MENNUCCI

pela Baía, em 1847, de viagem para o Celeste Imperio, tendo permanecido na capital baiana de 7 a 23 de julho desse ano [1]. Pois, nesse brevissimo tempo de estadia, o diplomata francês pôde fazer o nosso julgamento acerca do já então escaldante problema e revelou-o ao seu Ministro das Relações Estrangeiras, em carta datada de 16 de julho de 1847. Escreve ele:

“Seria, de resto, dificil achar um brasileiro que partilhe, relativamente ao tráfico de escravos, as idéas dos europeus. Não somente ele lhes parece indispensavel, do ponto de vista de seus interesses, como os brasileiros estão convencidos de que, no dia em que cessar o tráfico de escravos, a existência do Brasil, cuja riqueza toda consiste nas suas plantações, estará perdida, como, no ponto de vista da humanidade, eles nem siquer o consideram ílicito, porque estão convencidos de que os negros não só não são aptos para outra cousa senão para aquilo que os obrigam a fazer, e mais, que os negros são mais bem tratados nas fazendas do que no seu proprio país. Vou citar um fato que pode dar uma idéa exata do modo de ver dos brasileiros a esse respeito. Numa igreja da Baía, entre um grande numero de ex-votos, tive ocasião de ver um quadro representando um navio negreiro sob o pavilhão brasileiro e dois outros, um francês e outro, inglês, que lhe dão caça. No ceu aparece a figura de Cristo que, com sua mão poderosa, protege o barco bra-

  1. Artigo de Henri Cordier, publicado no «Jornal do Comercio», do Rio de Janeiro, edição de 27 de julho de 1930.