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Página:O precursor do abolicionismo no Brasil.pdf/143

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O PRECURSOR DO ABOLICIONISMO NO BRASIL
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Acrescenta, entretanto, o doloroso escritor:

“O negro era, porem, antigamente, não só animal de trabalho como objeto de ridículo. Ao passar o caixão de um branco, os transeuntes se calavam, compungidos, murmurando um “Deus te leve!”, com pena e terror no coração. Se era, porem, o caixão de Teresa que atravessava as ruas, aos ombros de quatro negros que levavam a enterrar um companheiro, os brancos paravam pilheirando, e as senhoras corriam para a janela, sorrindo, numa zombaria alegre da ultima vaidade daqueles homens de côr”.

Inutil, portanto qualquer tentativa de levantamento da opinião publica em favor de direitos. Estavamos imensamente longe dessa fase. Só restava o apelo ao coração, ao que restasse de sentimentalismo na raça, rogando a comiseração e a compaixão. Foi o que Gama fez, denunciando-se psicólogo de penetrante lucidez.

Parece que os italianos foram, desde muito cedo, dos que mais solicitos se mostraram em proteger os ideais do então humilde advogado dos negros. Contou-nos o sr. Antonio dos Santos Oliveira que no Circulo Operario Italiano, já existente, Gama costumava fazer conferências de intuitos emancipadores e que sempre encontrou ali contribuição pecuniária para a sua campanha. No fim das palestras, organizava-se a coleta entre os presentes, que eram sempre numerosos quando falava o notavel tribuno, e o montante era destinado a alforriar escravos.

A’ medida que a prática dos meios policiais e forenses, quasi sempre intimamente unidos, nas cidades pouco populosas, lhe enriquecia a experiência, Gama foi adotando o