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Página:O precursor do abolicionismo no Brasil.pdf/151

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O PRECURSOR DO ABOLICIONISMO NO BRASIL
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dica dos conhecimentos adquiridos, representavam apenas formalidades oficiais, mas não davam a sabedoria. E sem passar pelas arcadas, foi um legitimo expoente da cultura jurídica de sua época e de seu meio.

Para o seu ideal abolicionista, Gama, em sua nova profissão, ainda uma vez se revelou o profundo psicólogo que era. Tendo enveredado na campanha negra pela porta da simpatia humana, da solidariedade no sofrimento, pela pregação continua da caridade, foi, lenta e subrepticiamente, operando uma reversão na mentalidade jurídica sua coeva. Sentindo aquela ostensiva e unânime hostilidade pela conquista das franquias negras, que ele queria, a insopitavel repulsa geral em considerar o escravo como um ente humano, o ridículo inconciente e irraciocinado a pesar sobre todas as iniciativas que visassem minorar a sorte dos cativos, Gama não enfrentou os quadros legais que garantiam a solidez institucional da propriedade escrava, não tentou derruí-los num gesto de revolta e de indisciplina.obra que seria, mais tarde, o galardão de outro rebelde, Antonio Bento, muito menos culto, mas muito mais prático e que pegara a campanha em fase muito mais adiantada no espírito público. Gama, mesmo em sentindo todo o horror de um tal reconhecimento de sua parte, ele que considerava todos os “senhores” como autênticos salteadores da liberdade, conformou-se com a lei, aceitou-lhe os ditames, os dispositivos draconianos, a jurisprudencia cruel, e veiu para os tribunais discutir a honestidade, a retidão, a lisura de sua aplicação contra os negros.