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SUD MENNUCCI

se haveria nunca disposto a contar, por escrito, a sua vida e temos de agradecer a Lucio de Mendonça o se haver lembrado de forçá-lo a isso.

Porque tudo quanto se sabe da vida de Luiz Gama, resume-se, em última instancia, nesse artigo, que é a carta enfestada. Os que vieram depois, os mais criteriosos, limitaram-se a requentá-la, pondo em banho-maria essa página, que já não era original. E vive por aí, publicado com grande pompa, em jornais e revistas de alto coturno, muito perú literário que não passa de "roupa-velha"... muito velha.

Aliás, não ha de que se admirar do expediente. No Brasil, maximé em sua História — e biografia não passa de ramo menor dessa arte grande — a cópia é quasi a regra geral absoluta. Os fazedores de livros, para contar feitos e façanhas nossos, cingem-se normalmente á tarefa de meros compiladores e copistas, que dão desempenho ao seu intento sem a menor dose de espírito crítico. Copiam tudo o que encontram, sem maior exame, sem coar as afirmativas pelo crivo da verificação. São, por sua vez, copiados e recopiados e tricopiados, dependendo isso apenas da idade de seus trabalhos. Estabelece-se, assim, a corrente que veícula as invencionices mais calvas, os embustes, as patranhas, as imposturas, as meias-verdades, as interpretações desvirtuadas, as versões estrábicas, quando não mesmo tendenciosas, as induções e deduções dubias e inseguras, toda a flora, enfim, das fraudes da História. Nada adianta o protesto conciencioso dos legítimos sabedores contra essa atmosfera de falsidades. O copista não