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O PRECURSOR DO ABOLICIONISMO NO BRASIL

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De triagem em triagem, de desilusão em desilusão, consegui obter uma certeza absoluta: a carência de informações é completa e total acerca do negro. Mas a quantidade de inexatidões, de fatos narrados erradamente, de balelas e mentiras, é volumosa e chega a fazer rir. Porque todos ou quasi todos os escrevedores de artigos e conferencias sobre o nosso homem, apenas repetem e recozinham, quando não inventam cousa nova, um pseudo-estudo de Lucio de Mendonça, publicado no "Almanaque Literário" de 1881.

Não se afigure vontade de achincalhar a classificação de pseudo-estudo dado á biografia de Luiz Gama. O artigo de Lucio de Mendonça nada mais é do que simples ampliação de uma carta de Gama, que este escrevera, a pedido daquele, narrando-lhe a sua vida. O futuro acadêmico apenas a enfeitou com alguns adjetivos encomiásticos, acrescentou-lhe poucas observações e fatos referentes á última fase de Gama, e que Lucio conhecia porque haviam vivido e trabalhado juntos, na redação do "Ipiranga", e impingiu-a como composição sua, sob a responsabilidade de seu nome.

O artigo, portanto, seria de Lucio de Mendonça, em termos. A bem da equidade, ressalve-se a circunstancia de haver Lucio provocado o aparecimento da carta. Esse é o seu serviço ás letras, real e insubstituivel, desde que, com o temperamento de Gama e com a facilidade com que esquecia as suas melhores cousas, não seria impossivel que, hoje, nos encontrassemos em muito maior dificuldade quanto ao perfil do baiano. Espontaneamente, Gama não