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Página:O precursor do abolicionismo no Brasil.pdf/216

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SUD MENNUCCI

ao espetaculo apoteotico da abolição. Agora, era Antonio Bento que presidia aos destinos do movimento paulista, e o ex-juiz municipal de Atibaia se revelava guerrilheiro perfeito e adextrado na tática da insídia e da emboscada. Aplicava contra a fúria dos senhores exasperados, os recursos da sagacidade fria: a astúcia contra a violência, a agilidade contra a força, o golpe imprevisto e fulmineo contra as precauções mais meticulosas. A “Intelligence Service” do ditador da Igreja de Nossa Senhora dos Remedios desmontava, peça por peça, dia por dia, a macissa organização escravagista.

Gama haveria, por certo falhado nessa fase do combate. O seu vício da coragem e do peito descoberto o teriam inhabilitado para a luta em que se revelou exímio o chefe dos “caifases”. Mas, pelo testemunho do tempo, não resta a menor duvida de que foi Gama quem traçou o plano dessa nova etapa da campanha. E o juramento feito á beira de sua sepultura, na hora do enterro [1], mostra bem claro que, mesmo morto, Gama continuava a ser o supremo chefe, transubstanciado, agora, em “antepassado”, cujos manes se invocariam como imperecivel ensinamento da grei, como apelo decisi-

  1. Ha discordancia, como se vai ver, entre o relato de Raul Pompéa e outra testemunha por mim ouvida, quanto ao homem que provocou o juramento. Raul Pompéa afirma que foi Climaco Barbosa. O sr. Antonio dos Santos Oliveira declara que foi Antonio Bento. E na tradição popular é a este que cabe a iniciativa. Se não foi ele que falou, foi ele que cumpriu religiosamente o juramento, chefiando a insurreição branca.