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Página:O precursor do abolicionismo no Brasil.pdf/217

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O PRECURSOR DO ABOLICIONISMO NO BRASIL
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vo nas horas de dúvida e desconforto. Chefe, portanto, que transcendera á categoria de idolo.

Os seus amigos do tempo o afirmaram. Gaspar da Silva, jornalista português, que seria, mais tarde o Visconde de S. Boaventura, e que militara com Luiz Gama, na fase do abolicionismo, de 1880 em diante, em o numero 121 da já citada revista carioca, “O Contemporaneo”, dirigida por João de Almeida Pinto, frizou-lhe esse aspeto de chefe incontestado:

“A idéa de que nenhum senhor de escravos, por mais humanitário que seja e por mais comendas que lhe estrelem o peito, terá um enterro como teve Luiz Gama, nem será chorado como ele foi, mitigou-me a dor que me causara este verdadeiro desastre: — a morte do chefe do partido abolicionista.”

A posição do grande negro, entre os seus contemporaneos, estava na conciência de todos. O abolicionismo acabara constituindo-se em organização partidária, sem haver feito propositadamente qualquer esforço nesse sentido. A organização surgia, aos poucos, de per si. E quem lê a historia do Império, acaba verificando que o novo partido transformária o Parlamento Nacional, reclassificando as facções de 1884 em diante.

Gama nem isso viu. Baixara á cova, em plena maturidade, lutador abatido pelo seu proprio esforço, varado pelo cansaço, consumido pela sua propria chama, gigante que empreendera tarefa maior que as do Hercules grego: reintegrar uma nacionalidade no senso moral hereditario da especie.