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Página:O precursor do abolicionismo no Brasil.pdf/223

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ULTIMA PAGINA DA VIDA DE UM GRANDE HOMEM

Por volta das tres horas e meia do dia 24 entrou-me pela casa um amigo: — Sabes? disse bruscamente, o Luiz Gama morreu!... — O que está dizendo?!... — Morreu... — ... Luiz Gama?! — Serio, tristemente serio, afirmou-me o amigo. Era serio, era verdade. Aquele grande bemfeitor da humanidade não existia mais, aquele enorme coração, que só batia pelos outros, cessára de palpitar; aquela grande alma, feita de todas as nobrezas do caracter, dissolvera-se pelo desconhecido da morte. Eu amava-o. Voltava-lhe a adoração humana que inspiram-me os largos espiritos candidos de desinteresse. O seu passado lendario impunha um respeito amoroso, que eu tributava-lhe, como ás velhas cousas sagradas que lembram-nos uma tradição de sacrificio. tarde tive a grata felicidade de conhecer Luiz Gama. A' primeira vez que viu-me, mandou-me sentar a uma pequena mesa do seu escritorio e ditou-me uma carta. Achei esplendida aquela familiaridade repentina. A historia de Luiz Gama, tão minha conhecida, veiu-me á mente como um raio e combinou-se admiravelmente com aquele rasgo de intimidade. Ao fim da primeira palestra, já o homem chama-