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Página:O precursor do abolicionismo no Brasil.pdf/227

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O PRECURSOR DO ABOLICIONISMO NO BRASIL
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dos ciclones. Não havia um semblante sobre que se não lesse o vestigio da rajada das catastrofes. Choravam os homens como uns covardes, as senhoras pareciam exalar a vida em convulsivos soluços. Os mais rijos sentiam-se acabrunhados... Falar da esposa do finado fôra violar o silencio sagrado que deve rodear os martirios...

Na sala da frente estava o corpo... Lá estava sobre duas mesas aproximadas um grande cadaver, reto e fixo, as duas mãos rijamente cruzadas sobre um largo peito, trajado de negro, coberto a meio corpo por um pobre lençol grosseiro. O perfil do rosto alteava um pedaço de pano em frias saliencias... Levantava-se o lenço e via-se um belo semblante tranquilo como a noite do tumulo, ligeiramente alborisado pelo congelamento do sangue, dois olhos cruelmente cerrados para sempre sobre as mais suaves estrelas de bondade e de esperança, dois labios colados como as palpebras, selados por um ligeiro sorriso ironico sobre as mais ternas consolações de um largo coração. Impressionava a serenidade majestosa daquele morto. Sem aquele sorriso queixoso, que espiava por um canto dos labios, fôra a efigie de um Cristo. — Parece uma imagem, diziam... Estive a olhar longamente para aquela estatua tombada... Do interior da casa, chegava como em lufadas de alegria o gorgeio de muitos passarinhos...

* * *

Luiz Gama gostava das flôres... Das flôres e dos passarinhos. Devia gostar tambem das crianças. Essas grandes almas humanitarias evadem-se nas horas vagas