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Página:O precursor do abolicionismo no Brasil.pdf/226

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SUD MENNUCCI

pilherias desenluvadas, mas justas, a proposito do que das mesquinhezas politicas da terra, que o haviam exilado para o fundo do seu gabinete de advogado; aquele homem morrera... Invadiu-me o animo, nessa ocasião, a incredulidade, irracional, instintiva do horror á morte. Não sei porque, principiei a não crêr. Aquilo era falso, Luiz Gama vivia... Tive vergonha de externar o meu pensamento. Não acreditava... Porque? Onde falta o porque, aí vive o desvario. Tive vergonha. Aquilo era a covardia da vida. Não acreditar era fechar os olhos para não ver o espectro dos tumulos. Refleti, isto é, abri os olhos. Desenhou-se-me então pelo espirito a imagem simpatica do grande homem, alegre, ruidosamente alegre; mas revelando na palidez doentia do rosto, que ia-lhe pelas fontes da vida algum mal terrivel. Lembrei-me de que Luiz Gama já não descia as escadas do escritorio, sem que o amparassem. Ora dava-lhe o braço o seu jovem amigo Brasil Silvado, ora o seu dedicado Pedro; uma vez até, permitam-me que o refira orgulhosamente, uma vez, até eu mesmo dera-lhe o braço. O Luiz Gama dos ultimos tempos era uma veneravel ruina. O descômbramento total figurou-se-me naturalissimo. A cruel verdade. Perto da moradia de Luiz Gama, o bonde parou. Dirigi-me para lá enxugando as lagrimas que me ferviam nas palpebras.

* * *

A casa era uma devastação. Sentia-se que por ela havia passado alguma cousa formidavel como a derrota