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Página:O precursor do abolicionismo no Brasil.pdf/230

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SUD MENNUCCI

va-se como as serpentes do Tirso de Kermes pelas flechas dos pecegueiros e pelos galhos das amoreiras salpicadas de frutos. Ali, á luz daquele ceu cristalino e setinoso, sentia-se a impressão dulcissima da languidez harmoniosa, biblica do Eden. De longe vinham gargalhadas frescas dos meninos; dos arvoredos vinham chilros festivos de passarinhos. Uma orgia franca de prazer... Voltaram-me aos olhos violentamente as lagrimas. Aquelas aves, aqueles meninos e aquele pomar não sabiam que morrera Luiz Gama... A cruel alegria dos inconcientes... Não mais viria o amigo daquelas flôres e o cultor daquelas arvores visitá-las, ao amanhecer, nem assistir naquele pomar as agonias da tarde longa do estio... E tudo sorria!... Tudo aquilo lembrava-me o Eden, sim, mas o Eden abandonado.

Estava marcado o dia seguinte para o saímento.

As 6 horas da manhã, fui ainda uma vez visitar o corpo do meu adorado Luiz Gama.

Rompera um dia, como raros dias de São Paulo. A manhan, ligeiramente fria, impregnava-se-me pelos poros, como um banho de alegria. Eu estava, porem, refratario á manhã. Caminhava triste, refletindo na catastrofe que significava a morte de Luiz Gama. Lembrava-me que me haviam mostrado na vespera, em casa do morto, uma pequena guarnição de tijolos com que Luiz Gama andava cercando os alegretes do jardim... A guarnição estava em meio... Eis um trabalho do homem, que fica por concluir, observam-me... Eu refletia que, como a guarnição dos alegretes, uma outra obra de Luiz Gama