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Página:O precursor do abolicionismo no Brasil.pdf/231

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O PRECURSOR DO ABOLICIONISMO NO BRASIL
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ficara em meio, transformada em fuste partido para adornar-lhe o tumulo, — o sonho de todos os seus dias: a abolição. Eu procurava um soldado da sua força, queria espantar do espirito o meu desanimo. E só me aparecia a desoladora imagem da coluna truncada... Depois, sem consolar-me, resignava-me com a esperança de que o momento historico é muitas vezes a razão de ser de certos homens. Antes de chegar á casa do morto, encontrei-me na estrada do Braz com uma pessoa da familia.

— Já por aqui? disse-me.

— Vou vê-lo ainda uma vez...

— Eu vou á cidade trocar a tampa do caixão... Esta é pequena. E indicou-me um individuo que se aproximava, tendo á cabeça uma tampa de esquife, com os galões fulgurando ao sol... Eram os preliminares do saímento.

Já se havia revestido a jovial morada da tristeza mercenaria dos aparatos funebres. Um brutal reposteiro negro fechava lugubremente a porta. A sala ardente ostentava umas largas fachas de fazenda preta agaloada de amarelo, distendidas do teto para o chão, na sua convencional seriedade lugubre. No meio da sala havia uma pequena eça, forrada de negro e dourado; ao fundo um singelo altar. No altar havia, enfiados como silenciosos guardas, um crucifixo e seis velas; sobre a eça jazia um longo esquife listado de ouro, cercado de outras seis velas. Espessa penumbra flutuava no ar; mal se via, atravez de umas estreitas frinchas das janelas, o dia brilhando lá fóra. Dentro daquela sala, julgava-se a gente encerrada num