e Gama não havia de se ter cansado de o referir e repetir durante toda a viagem e depois dela. Ora, o artifício servia a emaranhar e complicar os antecedentes e forrava o senhor a complicações sempre possiveis, decorrentes da aplicação da lei de 7 de novembro de 1831, que, embora burlada e incumprida, era sempre uma lei.[1]
Ainda haveria a hipotese de ter Gama, na Carta, trocado o nome da Igreja Matriz em que foi batizado, despistando assim os possiveis pesquisadores de sua vida. Mas tal só se poderia verificar mediante uma batida completa nos livros da Curia, e referentes a todas as freguezias existentes na época, não só da cidade do Salvador, mas tambem das cidades visinhas. Trabalho para anos e realizado em virtude de uma simples suspeita, não teria a animá-lo nem mesmo a certeza de uma descoberta sensacional. Porque bem pode acontecer que o assentamento de batismo seja de um laconismo tal, como era praxe no tempo, que não compense tamanho esforço.
Compreendem-se, aliás, perfeitamente as dificuldades encontradas na busca desse documento. Se Gama não tivesse a certeza da existência de uma circunstancia qualquer que tornasse baldadas essas pesquizas, ele, que foi, como veremos, um prodigio de inteligência e de argúcia e que, como advogado dos mais ilustres, conhecia todos os segredos e todos os recursos da astúcia e da malícia humanas, não haveria afoitamente contado a seu amigo
- ↑ Tambem não seria desarrazoado supor que a mudança de nome tivesse sido exigida ou, pelo menos, inculcada pelo proprietário do novo escravo.